domingo, 14 de abril de 2019

Estrela-do-mar

Tal qual o oceano, a vida é um mistério profundo
Vai-se navegando a esmo em águas imprecisas 
De mar muitas vezes bravio
Suportando afundamentos e naufrágios
Mas se desfrutando também de agradáveis mergulhos
Unidos à sensação extasiante de estar ao sol
Ou à leveza de sentir a chuva passear pelos contornos do corpo

Nessa contínua e vasta embarcação há muitos nautas
Uns inconformados com a incerteza da rota
Outros entregues à aventura de navegar sem rumo

Entre eles, uma amável mareante
Marinha, devota das águas, faz do oceano a sua religião
Entrega-se ao seu enigma e vive feliz a admirá-lo
Até o dia em que decide existir nele

A bela, fascinada com o marulhar, joga-se às ondas
Atravessa o litoral e é atravessada por ele 
Depois desse mergulho, não mais consegue voltar
Sofre apneia fora d’água, só sabe agora respirar no mar
Pequena dentro do oceano, mas imensa junto a ele
Torna-se estrela, uma estrela-do-mar

(em memória de Joana Colares)

segunda-feira, 18 de abril de 2016

Simulacros e simulação

Ao perder-se a fluidez dos atos, a instantaneidade do abraço, o apertar de mãos e o calor dos afetos, cria-se um simulacro de relação. Contatos corrompidos têm dificuldade de subsistir, uma vez que consistem em mero contrato para o bem-estar coletivo. Este disfarce sujeita a supressão das diferenças e estabelece uma ordem gregária de afeto ilusório. Simular estima e apreço enregela o íntimo do coração. As palavras saem entrecortadas e o riso queda preso. Convívio contrafeito não é benéfico. Não existe simulacro de carinho. A genuína benquerença é indissimulável.

sexta-feira, 15 de abril de 2016

Irremediável

Imersa em um tornado de astenia. Impotente diante da força do mar. Corpo acidentado, embarcação malogra. Impossível chegar à superfície. Na bruma marinha de desencanto, minhas ilusões nadam a esmo. No negrume oceânico, naufrago.

quarta-feira, 13 de abril de 2016

Parece sem sentido. E é.

Escrevo para mim. Única leal e factual aliada e oponente. Singular companhia até o fim dos tempos. Una a viver, na alma e na carne, as contrições de ser quem sou. Eu de significados infinitos a transitar entre passado e porvir. Radicada de penitências, desencantos e sonhos. Sui generis. Sou gênese. E fim.