domingo, 14 de abril de 2019

Estrela-do-mar

Tal qual o oceano, a vida é um mistério profundo
Vai-se navegando a esmo em águas imprecisas 
De mar muitas vezes bravio
Suportando afundamentos e naufrágios
Mas se desfrutando também de agradáveis mergulhos
Unidos à sensação extasiante de estar ao sol
Ou à leveza de sentir a chuva passear pelos contornos do corpo

Nessa contínua e vasta embarcação há muitos nautas
Uns inconformados com a incerteza da rota
Outros entregues à aventura de navegar sem rumo

Entre eles, uma amável mareante
Marinha, devota das águas, faz do oceano a sua religião
Entrega-se ao seu enigma e vive feliz a admirá-lo
Até o dia em que decide existir nele

A bela, fascinada com o marulhar, joga-se às ondas
Atravessa o litoral e é atravessada por ele 
Depois desse mergulho, não mais consegue voltar
Sofre apneia fora d’água, só sabe agora respirar no mar
Pequena dentro do oceano, mas imensa junto a ele
Torna-se estrela, uma estrela-do-mar

(em memória de Joana Colares)